Aos poucos, algumas janelas começaram a se abrir. Olhares curiosos surgiram, tímidos, tentando entender de onde vinha aquela luz firme. O vento carregava o som distante do sino, que balançava levemente, como se ecoasse o chamado silencioso de Sofia. A cada clarão da lamparina, sombras se dissipavam e corações se despertavam, lembrando aos moradores que havia algo além do medo que os mantinha trancados.
Um a um, os moradores saíram para fora, atraídos pelo brilho que cortava a noite. Muitos caminhavam com passos hesitantes, segurando casacos contra o frio, enquanto outros, com olhos marejados, seguiam com a respiração acelerada. A cada passo em direção à praça central, a luz parecia guiá-los, como se fosse um farol prometendo segurança. Lá, reunidos sob a chuva, ergueram os olhos e viram Sofia — pequena diante da imensidão da tempestade, mas erguida com firmeza, como alguém que sabia exatamente por que estava ali.
Em silêncio, alguns começaram a se ajoelhar. Outros uniram as mãos, sentindo que aquele momento não era apenas sobre sobreviver à tempestade, mas sobre reencontrar algo que haviam perdido. E então, no meio da noite mais escura, vozes se ergueram em oração, não com desespero, mas com confiança renovada. A luz de Sofia não afastou a tempestade, mas acendeu algo ainda mais poderoso: a fé adormecida no coração da vila — uma chama que, dessa vez, não se apagaria.